segunda-feira, 12 de março de 2018

Novo site do Grupo SobreViver


A partir de agora, o Grupo SobreViver tem um novo site.

Para ler todo o nosso conteúdo, acesse: www.gruposobreviver.com.br

Conte com a gente sempre que precisar de apoio, porque juntas somos mais fortes e você não está sozinha!

Um grande abraço, Equipe SobreViver






sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Viver o luto de maneira saudável


Por Karina Meneghetti

Já tem algum tempo que eu penso em escrever algo sobre este assunto. Eu não sou psicóloga, nem psiquiatra, nem estudei livros e teorias sobre o assunto. Sou apenas uma mãe que perdeu sua filha já há dois anos e que desde então vem aprendendo no dia a dia como o luto pode ser pesado, doído, mas também uma fase de grande aprendizado interior. Por tudo isso, e pelo carinho enorme que eu sinto pelas pessoas que vivem perdas parecidas com a minha, decidi reunir meus pensamentos em um texto e compartilhar com vocês.

Já ouvi dizer que o luto tem fases, mas eu gosto mesmo é daquele texto que compara o luto a um naufrágio. Você está num barco que afunda e você se vê no meio do mar, junto aos destroços do que já foi algo muito lindo e maravilhoso. As ondas atingem você, que se agarra ao que puder para sobreviver. As primeiras ondas são enormes e você acha que não vai conseguir respirar. As ondas vão diminuindo de tamanho com o tempo, mas ainda estão lá e de vez em quando fazem novos estragos. Você intercala períodos de calmaria com épocas de ondas agitadas. No SobreViver, a gente costuma dizer que quando as ondas chegasm, não adianta se debater. Você precisa se entregar ao luto. Chore. Sinta. Escreva. Fale. Para depois poder respirar novamente e seguir em frente. Tentar fugir só vai desgastar ainda mais você, que já está tão cansada.

Fiz uma enquete com outras mães em luto e perguntei o que elas faziam para viver durante essa fase tão dolorosa. Cada mãe podia dar mais do que uma resposta e eu me identifiquei muito com elas. A maioria respondeu em primeiro lugar: Eu choro quando tenho vontade.

Essa resposta me remete aos dias em que tudo o que eu mais queria era chorar. Mas no meu caso, foi só com o tempo que me permiti o choro. O lavar da alma. A manifestação mais verdadeira da dor de uma mãe. Lembro de mim mesma há dois anos e me dói perceber quanto choro eu segurei. Primeiro porque eu tinha medo de cair em uma depressão profunda. Depois porque eu não queria que as pessoas se preocupassem comigo. E ainda porque eu não queria causar ainda mais sofrimento para quem estivesse ao meu lado. Hoje eu vejo que nada disso fazia muito sentido… e que eu devia ter me permitido mais. O choro ajuda a colocar a dor para fora. Desengasgar. E foi quando eu comecei a chorar que eu fui me permitindo viver o meu luto. Afinal, minha filha tinha acabado de morrer e eu tinha razões de sobra para chorar. Muitas vezes as ouras pessoas ou o mundo da alegria infinita nas redes sociais colocam limites na nossa dor. Outras vezes, nós mesmas nos colocamos esses limites. É importante refletir sobre isso.

A segunda resposta mais escolhida pelas mães em luto foi: Eu me apego a minha fé. Nós vivemos em um país onde as pessoas têm muitas crenças diferentes, e independentemente de religião, ter fé em algo maior que nós mesmas pode trazer um conforto muito grande. Pode nos levar a um sentimento de acolhimento maior. Na compreensão que há um Deus que não nos abandona, mesmo nos momentos de maior dor. O suporte religioso pode ajudar muito as mães que creem, mas não são um apoio para aquelas que não creem. Por isso, consolar por meio da religião pode não funcionar para todas as mães.

Vou falar por mim: sempre fui católica, sempre me considerei uma boa pessoa, aquela que se esforça para ser alguém do bem, sabe? Pois é, aí minha filha morreu e eu me vi muito sozinha… Minha família foi muito querida, mas a maioria não sabia como me acolher. Muitos amigos sumiram. Na igreja que frequentava, me decepcionei com o padre que não quis rezar uma missa de sétimo dia pela minha filha porque ela era um anjo e anjos não precisam de orações. Oi? Padre, é a minha menina! Eu não perdi a minha fé por causa disso, mas foi um momento de muita reflexão para mim, que me fez buscar outras formas de compreensão. Eu não conseguia deixar de acreditar que existia um Deus por trás de tudo, e que Ele era um ser justo e bom, mas o que a minha igreja estava me passando naquele momento não estava me ajudando. Eu me encontrei novamente no Espiritismo, que frequento desde então. Foi a minha forma de me religar com Deus. Afinal, é para isso que a religião serve, não é?

Nas reuniões do grupo ou quando conheço outras mães na mesma situação, sempre tento não usar Deus como forma de acolher ou consolar. Porque muitas mães não acreditam Nele. Outras acreditam de uma forma diferente da minha. E tudo bem. No meu coração, eu só desejo que cada uma encontre a melhor forma de seguir em frente. E no silêncio do meu coração, eu oro e vibro por todas elas. E eu sei que para muitas mães, como para mim, a fé é algo bastante importante e que ajuda muito em todo o processo.

A terceira resposta mais escolhida foi: Participo de grupos de apoio. Como é saudável e como ajuda durante o processo de luto compartilhar as dores com pessoas que viveram a mesma situação! Eu lembro que, quando cheguei em casa vinda do hospital, o que eu mais gostava de fazer era procurar na internet relatos de mães que tinham passado por algo parecido. Eu lia, me identificava e não me sentia mais sozinha. Não, não foi só a minha menina que morreu. Tem outras mulheres chorando nesse exato momento. E quando eu fui ao primeiro encontro presencial do SobreViver, apenas 15 dias depois da minha cesárea, eu sabia que ali eu tinha um porto seguro. Um lugar onde eu poderia falar qualquer coisa que não seria julgada. Aquelas pessoas sabiam o que eu estava sentindo. E elas sentiam junto comigo, porque eu via os olhos se enchendo de lágrimas enquanto eu contava a minha história. O acolhimento de um grupo de apoio foi essencial para a minha recuperação. Para que eu pudesse me compreender, sem me julgar. Para que eu aprendesse que eu podia chorar e tudo bem. Para que eu fizesse novas amizades e pudesse deixar ir aquelas outras que já não faziam mais sentido na minha vida. Para que falasse o nome da minha filha Bianca sem medo de causar constrangimento. Para que fosse, aos poucos, respeitando as minhas vontades e lidando com as decepções provocadas pelas minhas próprias expectativas.

Estar em um grupo de apoio, seja ele presencial, no Facebook ou WhatsApp, pode trazer um conforto enorme e ajudar no crescimento pessoal e individual de cada mãe. Ouvindo outras histórias, acolhendo e sendo acolhida, a gente vai se reconstruindo e se fortalecendo. Aprendo a cada dia, com cada mãe. E percebo nos grupos que isso acontece com a maioria das mães que estão ali também. Isso é tão bonito e tão mágico!

Outras respostas foram dadas e, mesmo encerrando esse artigo por aqui, acho importante pontuar que existem outras ferramentas que ajudam a viver um luto saudável, como: terapia, falar sobre o assunto, escrever sobre o assunto, fazer exercícios físicos, contar com um psiquiatra e tomar medicamentos quando necessário for, meditar, fazer ioga, mergulhar no seu trabalho, aprender algo novo, como bordado ou tricô, cozinhar, fazer scrapbook etc. Você pode tentar várias delas, escolher a que mais agrada ou a que mais desafia. O importante é que você saiba que é possível viver essa fase da vida de uma forma mais saudável, sem ficar se cobrando demais para que ela termine logo. Luto não tem validade, dura quanto precisar. E quando você menos esperar, vai perceber que ele foi ficando mais leve. E depois um pouco mais leve… até virar uma saudade bonita, que dói de vez em quando, mas que já não paralisa você.

Nossa sociedade ainda valoriza muito a alegria e o sucesso e tenta esconder a dor e a tristeza. Por favor, não deixem que isso oprima vocês, permitam-se viver! Afinal, perder um filho não é como perder um objeto que é logo substituído e você precisa de tempo para aprender a conviver com esse vazio. Nós estaremos sempre aqui por você! Porque juntas somos mais fortes!






quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Todas as estrelas riem docemente...

    Assistindo ao Pequeno Príncipe, me pareceu o certo a fazer escrever tudo que o filme me fez pensar e reviver... 

    No dia 20/07/2017, acordei feliz sabendo que o momento de conhecer você, meu Iure, estava próximo. Eu estava arrumando os últimos detalhes para sua chegada, antes mesmo de imaginar que você viria antes. Já tinha visto este difusor do Pequeno Príncipe, então neste dia fui compra-lo. Seu quartinho estava lindo e cheiroso para recebe-lo, mas o nosso destino já estava traçado. Você não pôde desfrutar do seu lindo quarto e eu não pude lhe contar a linda história do Pequeno Príncipe. E o difusor estava aqui, sem utilidade pra mim, me fazendo lembrar de você todas as vezes que olhava para ele. Esta semana resolvi usá-lo aqui na sala, do lado da sua foto. 






    Só então reparei em uma frase que está escrita em uma tag que veio nele: "Então, eu me sinto feliz e todas as estrelas riem docemente." 

    Isso me trouxe um certo consolo, saber que aonde você está não tem choro, nem dor, nem sofrimento. Você está feliz, um anjo perfeito, lindo e muito amado, brincando ao redor das estrelas e sei que, ao seu lado, elas riem docemente!
A dor pode sim amenizar, mas o amor e a saudade só crescem, dia após dia.

Ariane Baptista Ribeiro
(Ariane é mãe do Iure e integrante do Grupo SobreViver)

sábado, 6 de janeiro de 2018

"Você já não deveria ter superado isso?” Como responder ao julgamento sobre seu Luto





Um leitor me enviou esta pergunta:
Como posso lidar com pessoas que esperam que eu já tenha “superado”? Minha noiva morreu quase dois anos atrás. Como posso convencê-los, que está tudo bem em eu ainda não ter “superado”?
Embora essa pergunta tenha sido enviada por um leitor, muitas pessoas sofrem com essa questão. Eu aposto que você teve pelo menos alguns experiências com pessoas que tentaram te ensinar o modo “correto” de sofrer e “superar”.
Muitas pessoas esperam que você supere, não é?
Eles não conseguem entender o que é ser você, viver dentro de um  sofrimento como esse. Eles só querem o você "velho"de volta, não entendendo que esse “antigo você” mudou profundamente.
É tão tentador, quase automático, argumentar o seu direito ao seu sofrimento, e descrever para outras pessoas todas as coisas que mudaram, todas as maneiras que a falta do seu filho dói em você, e como isso afeta todas as áreas da sua vida.
A coisa é, não importa o quanto você diga, não importa o quanto você tente educá-los, a verdade é que eles não conseguem entender. É muito tentador falar sobre todos os seus motivos (mesmo bem explicadinho), mas suas palavras nunca irão surtir efeito.
Então o que você pode fazer?
Às vezes, é mais fácil para você, seu coração e mente ficarão mais leves, se você simplesmente parar de tentar explicar.
Recusar-se a explicar ou defender o seu sofrimento não significa que você deva deixar as outras pessoas continuarem a falar sobre isso, continuamente dizendo como você deve viver. Estou falando se recusar a participar de debates sobre se a sua dor continua é válida ou não .
Argumentar em sua defesa para alguém que não consegue entender é um desperdício de seu tempo e de sua (pouca) energia emocional
É importante lembrar que, seu sofrimento, assim como seu amor, pertence a você. Ninguém tem o direito de ditar, julgar ou desprezar o que é seu para viver.
Entretanto, mesmo as pessoas não tendo o direito de julgar não impedem que elas o façam.
Isso significa que: se você quiser parar de ouvir as pessoas te julgando, você precisará deixar claro os seus limites. Você precisará deixar claro que seu sofrimento não é assunto para ser debatido. Que você não permitirá isso.
Claro que é mais fácil falar aqui do que agir, então sugiro alguns passos que você pode tomar para sair da discussão:
1. Dizer, clara e calmamente, que entende a preocupação da pessoa.
2. Esclarecer seus limites.
3. Redirecionar a conversa. Fale de outro assunto. Mude o foco.

Esses três passos, quando usados ​​de forma consistente, podem reduzir significativamente a quantidade de julgamentos que você costuma ouvir.

Veja na prática:
Primeiro, reconheça a preocupação do outro, enquanto diz saber das boas intenções dele: "Agradeço seu interesse na minha vida".
Em segundo lugar, deixe BEM claro seus limites: "Eu vou viver dessa maneira que me parece adequado, e que tem funcionado para mim, e não estou interessado em discutir isso".
Um outro jeito: etapas um e dois – reconhecendo a preocupação do outro e esclarecendo os seus limites - muitas vezes podem vir juntos em uma frase: "Agradeço o seu interesse na minha vida. Eu vou viver dessa maneira que me parece adequado e que tem me feito bem, e não estou interessado em discutir isso ".
Isso pode se tornar ainda mais eficaz se você juntar a etapa número três, redirecionando a conversa, também mudando de assunto: "Estou feliz em falar sobre outra coisa, mas isso não está aberto a discussão".
Parece muito duro e frio, eu sei. Mas a mensagem aqui - incluindo a formulação formal - é que você tem um limite claro, e você não permitirá que isso seja violado de nenhuma maneira.
Se houver pessoas em sua vida que não percebam esse limite tão claro sem mais argumentos, você pode manter uma frase na manga - "Esse não é um tópico que vou discutir" - e depois mude a conversa para outra coisa.
Se eles não conseguem fazer isso, você pode terminar a conversa completamente - vá embora, diga adeus e desligue.
O importante é não permitir que você seja atraído para a batalha. Seu sofrimento não é um argumento. Não precisa ser defendido.
É estranho no início, mas esclarecer seus limites e redirecionar a conversa se tornará muito mais fácil quanto mais você praticar.
Eventualmente, as pessoas em sua vida entenderão o recado - não que você não precise superar isso, mas que você não está disposto a discutir isso - ou eles vão cair fora.
O problema é que o sofrimento reorganizará completamente seus relacionamentos. Algumas pessoas irão embora, e algumas ficarão.
Se as pessoas em sua vida puderem lidar, até mesmo aceitar isso, você ser verdadeiro consigo, com seus sentimentos e dores, então eles ficarão ao seu lado. Se eles não conseguirem entender, deixe-os ir: graciosa, claramente e com tranquilidade e amor.

Texto de Megan Devine 
Versão em Português por: Grupo SobreViver
Publicado originalmente em https://www.huffingtonpost.com/megan-devine/grieving-process_b_5065323.html


terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Quando a dor de quem sofre, sufoca quem aconselha



           É fácil dar conselhos ou julgar quando não se viveu a situação. É fácil dizer: "Supere!" Ou: "Já chega!" quando o espinho não arde na própria carne. Quando não se conhece a dor do outro. Quando não se traz na bagagem a mesma história de vida. 
          É difícil colocar-se no lugar de quem sofre. É difícil entender o que se passa, mesmo que se tenha vivido uma situação semelhante, pois o jeito com que se lida com o que te acontece hoje, depende de como foi todo seu passado, aprendizados e vivências anteriores. O que dói em mim, pode não doer em você. Ou pode não doer do mesmo jeito. O que me machuca, ou me é árduo lidar, pode ser mais simples para você e vice-versa. 
           Há uma sociedade, regida por regras, que se encarrega de ditar como e até quando devemos nos sentir assim ou assado. Gente que te diz: "fica feliz, porque te falta uma perna, mas você tem os braços". Gente que diz que é "plano de deus", que "vai passar" ou outra pérola do gênero. E as palavras, muitas vezes carregadas das melhores intenções, cheias de amor, daqueles que, se pudessem, fariam uma limpeza de toda tristeza e te deixariam em pé de novo, acabam por machucar ainda mais! 
           Quando eu digo: "Supere!" ou "confie em deus" ou ainda: "você é fraco, ainda vive esse sofrimento" na maioria das vezes estou dizendo: "Ei, pelamordedeus, pára de sofrer porque eu não sei lidar com isso! Pára de chorar porque não sei dar colo, não sei o que fazer. Esquece essa dor porque falar nela me lembra das minhas dores, aquelas que eu mesmo fiz questão de jogar para debaixo do tapete para não ter que lidar com elas". E então acontece, mais uma vez, a culpabilização da vítima, aquele que sofre, por aquele que está de fora. Quem chora é culpado por sofrer, por querer desabafar, chorar a própria dor. 
           Fazer perguntas que nunca terão respostas, esbravejar, demonstrar os sentimentos mais inaceitáveis. E o interlocutor, em sua dificuldade em acolher, acusa. Acusa o outro de fraco, de inadequado. E nisso se recusa a ver, que, não há nada de mal em o outro chorar. É justo! Pode não ser um problema tão grande para um, mas se dói no outro, se sufoca ou tira o chão, que mal tem chorar? Que mal tem sofrer? 
          Acolhimento não significa sempre ter um bom conselho, ou tentar tirar o outro do sofrimento. Um bom acolhimento é aquele que valida a sua dor. Que, mesmo não compreendendo o que você sente, te dá espaço para que todo sentimento seja manifestado e assim, validado. É quando quem sofre encontra espaço para manifestar o que carrega dentro de si que as dores vão sendo expostas e elaboradas. E o sofrimento vai aos poucos se transformando. 
          Não se deve obrigar o outro a se sentir grato por uma provação. Precisamos assumir que não é o outro quem tem que deixar o sofrimento de lado e sim nós que precisamos lidar melhor com o choro desse alguém. Assumir que todo sentimento é justo e que, se não temos condições emocionais próprias, para ouvir e acolher, pelo menos vamos garantir que nossos dedos não estão em riste, apontando falhas no outro que na verdade são nossas. 
          Não é o outro que precisa parar de chorar e sim eu que preciso saber lidar melhor com isso. E reconhecer que se me incomoda, se não aguento o tranco, devo permanecer em silêncio. 
          Como já diz a sabedoria popular: " Muito ajuda quem não atrapalha". E sempre. Sempre e sempre, na maior parte das vezes, se não em todas elas, o que o outro precisa de você são duas (sinceras) palavras: "Sinto muito!"

Texto de Flávia Cunha
Publicado em 30/12/2015

sábado, 30 de dezembro de 2017

Um (não tão) Feliz Ano Novo...



Se tem uma coisa que eu aprendi sobre o sofrimento, desde que perdi meu filho pouco depois do nascimento a termo em julho de 2016, é que o luto nos arrebata quando você menos espera. Quando eu imaginava antecipadamente que uma certa data seria muito cruel de passar, o sofrimento geralmente aparecia alguns dias antes de tal data. O primeiro aniversário do meu filho, por exemplo, ou o que deveria ter sido seu primeiro Dia de Ação de Graças.

No último final de ano, época das festas, eu já estava bem aflita em como seria o Dia de Ação de Graças e o Natal. Mas para minha surpresa, foi o Ano Novo que me derrubou. Tinha medo que as pessoas esperassem que um novo ano me trouxesse esperança. Um novo começo. Uma chance de olhar para frente, em vez de para trás. Mas essa expectativa é apenas um ótimo exemplo de como a maioria das pessoas, embora carinhosas e bem intencionadas, entendem mal os sentimentos dos pais em luto.

A passagem do tempo 
Talvez  tenha sido a minha escolha para me concentrar na vida do meu filho em vez de sua morte. E esse tempo, entre hoje e aquelas poucas horas preciosas que tive com ele, é totalmente o oposto de reconfortante ou esperançoso para mim.

Um ano novo significa mais distância entre meu filho e eu. 2016 foi o ano de Jacob, e assim que o relógio atingisse a meia-noite de 1º de janeiro de 2017, nunca mais seria o ano de Jacob. Eu não podia mais dizer que eu tive um filho "este ano". Em vez disso, seria "ano passado". Ou, dentro de algum tempo, "há 2 anos", "3 anos atrás", e assim por diante. Quanto mais tempo passasse, mais as pessoas esperariam que eu tivesse superado ou que meu sofrimento tivesse  diminuído. Eu sabia que esse não seria o caso. O trauma de perder um filho não é como o trauma de um acidente de carro ou um procedimento médico doloroso. Se o seu trauma é a perda de um filho, colocar mais tempo entre você e seu trauma não alivia a dor.

O tempo não cura esse trauma porque a fonte do seu trauma é o amor, e esse amor é algo que você deseja se apegar o máximo possível.

Dor de Ano Novo 
Então, se sua perda for mais recente do que a minha, ou talvez, mesmo que não seja, não se surpreenda se o sofrimento de Ano Novo se agarrar em você. E se você é capaz de explicar isso aos seus amigos e familiares, talvez eles ganhem uma melhor compreensão de como os pais enlutados se sentem. Mas também vou oferecer algumas palavras que eu espero que sejam reconfortantes. À medida que eu chegar em 2018, posso dizer que estou com menos medo de virar essa página do calendário do que em 2017.

Desde que o tempo passou e continuei a falar sobre Jacob, a maioria das pessoas na minha vida parece entender que, o tempo passar não é a resposta para o meu sofrimento. Na verdade, eles não devem esperar que eu pare de lamentar nesta vida. E isso é reconfortante. Meu outro grande medo - que, com o tempo, minhas memórias de minhas poucas horas com meu filho desapareceriam - também foi atenuada. De alguma forma, mesmo com o passar do tempo, lembro facilmente como ele era e o que senti em olhar para o rosto dele. Nunca vou deixar de desejar ter mais tempo com ele, mas pelo menos agora tenho menos medo de que essas memórias desapareçam. E assim, a passagem do tempo é um tanto menos aterrorizante do que no ano passado.

Se o sofrimento te atinge em cheio neste Ano Novo, saiba que você não está sozinho, e que esses sentimentos são muito, muito válidos. Mas tenha o conforto de que a passagem do tempo não pode distanciá-lo do seu filho, tanto quanto você pensa. Seu amor pelo seu filho é forte e preservará sua memória melhor do que você pensa.

Desejo um 2018 tão cheio de paz quanto possível e cheio de amor e memórias de seu filho amado.  

Texto de Elizabeth Yassenoff  
Publicado originalmente em: http://stillstandingmag.com/2017/12/not-happy-new-year/
Tradução Livre: Grupo SobreViver

domingo, 24 de dezembro de 2017

Meu Primeiro Natal sem Ela


24 de dezembro de 2014. Nosso primeiro Natal (aqui do lado de fora da barriga). Ela com 8 meses e 12 dias engatinhando pela sala, fascinada com as luzinhas da árvore de natal. A nossa (pequena) família reunida, um jantar preparado com todo capricho. Um presente escolhido com muito amor, embrulhado embaixo da árvore para ela abrir sozinha. Eu, cansada das noites em claro, com as costas doendo de correr atrás dela. Nossa casa com brinquedos espalhados por todos os cantos e o amor explodindo nos nossos corações!

Era o plano perfeito! O sonho mais do que lindo! Mas meses antes ele se.desfez por entre meus dedos, e, numa fração de segundos minha menina não respirava mais. Não haveria natal com ela. Nem páscoa, nem aniversário de um aninho, nem primeiro dia na escolinha... Nada mais. Nenhum dos meus sonhos se tornaria realidade. Exceto um: Eu havia me tornado mãe sim. Porém, mãe de colo vazio. Naquela UTI me despedi dela sem conhecer a cor de seus olhos, e fazendo todo o esforço do mundo para me manter em pé. Respirando.

Os dias se passaram, semanas, meses e o primeiro natal sem ela chegou. Frio na barriga, a cabeça girando. Como seria? Que motivos eu tinha para festejar? Então decidimos ouvir nossos corações e vontade de estarmos só. Explicamos para nossa família o quão doloridos estávamos. E que doía até mesmo respirar. O natal não vazia mais sentido. Os braços vazios. A casa vazia. Sem árvore, sem enfeites, sem sonhos, sem minha preciosa menina!

Preparei umas esfihas. Ligamos a TV no Netflix e fizemos uma maratona de seriados. Espalhados no sofá, de pijamas e janela fechada. Fizemos questão de fingir que não estava acontecendo nada lá fora. Celulares e notebooks desligados. Redes Sociais desativadas. Só ouvíamos naquele dia nosso desejo de estarmos sós.
A madrugada chegou e horas depois, o amanhecer. Era dia 25 e seguimos como num dia comum.

E, finalmente aqueles dias acabaram. Natal e Ano Novo se foram. Dormimos durante a virada e só fiz um pedido antes da meia noite, segundos antes de adormecer: precisava de forças. Só isso!

2015, 2016, 2017. Nosso quarto Natal sem ela. Uma irmã chegou nos trazendo alegrias, mas não diminuiu a saudades e a falta que ela faz. Hoje somos três em volta de uma árvore tímida. Não é tão sufocante como na primeira vez. Acredito que por termos nos respeitado nos outros natais e termos ficado sós, e termos deixado doer o que precisou, hoje nos sentimos mais fortes e mais inteiros. Como poderíamos cobrar de amigos e familiares respeito à nossa dor se nós mesmos não nos acolhessemos? Hoje, somos três. Três desejos de que fôssemos quatro hoje. E sempre.

Saudades, minha Amorinha!
Te amo, Sempre!

Autoria: Flávia Cunha