E lá se foi UM ANO. 365 dias, 8760 horas,
525600 minutos ou 31.536.000 segundos se passaram desde que a minha filha
morreu. A tarefa diária de atravessar cada momento tristeza foi cumprida. Mesmo
depois de um ano, eu ainda me pergunto: "Por que isso aconteceu?"
"Qual foi a causa?" Ou "Poderia ter sido diferente?" Então
eu percebi que, se eu continuasse me perguntando essas coisas, eu poderia nunca
encontrar uma resposta . Depois de refletir sobre um ano de luto, posso lhe
dizer as lições que aprendi, mas acredito que o caminho de cada pessoa é
diferente e também como vivenciam a sua própria jornada de luto. Então, ao
invés disso, acredito ser melhor que relatar sobre o ano de tristeza que vivi e
as perguntas que me fiz, essas sim que fui capaz de responder.
1)Eu me permiti sofrer livremente, no meu
próprio ritmo, e das maneiras que eu precisava?
Sim! Eu levei tanto tempo quanto eu
precisei e deixei a tristeza me envolver de uma forma que era única para mim!
Eu andei o caminho da dor no meu próprio ritmo e com quem eu escolhi para
compartilhar a experiência. Abracei minha dor e não permiti que outras pessoas
me dissessem como fazer o meu luto ou ficassem no meu caminho.
Sim! Eu aprendi que mesmo que eu não
pudesse segurar meu filha nos meus braços por mais tempo, que o meu amor por
ela ainda crescia a cada dia no meu coração. Eu me dei permissão para
compartilhar o amor que tenho por ela com os outros e aprendi que eu ainda
posso ter um relacionamento amoroso com a minha filha, mesmo após sua morte. O
amor não morre!!
3)Será que eu me permiti momentos de
felicidade sem culpa?
Este foi a parte mais difícil, já que havia
momentos em que eu sentia que sendo feliz eu estava sendo desleal para com a
minha filha. Mas então eu percebi que a minha filha não gostaria uma mãe
infeliz em sua vida, por que ela quer uma mãe infeliz na sua morte? Ela não podia mais
viver e foi assim que eu aprendi a viver a vida, com todos os momentos de
alegria, por nós duas.
4)Eu fui honesta com os outros sobre os
meus sentimentos?
Sim e Não. Haviam dias em minha tristeza em que eu não conseguia dizer à outra pessoa como eu realmente me sentia, porque
se eu fizesse isso, eu teria desintegrado no chão em pedaços. Nesses dias eu
não era forte o suficiente para permitir que outros vissem a minha dor. Estes foram os dias em que eu menti e nesses, colocava um sorriso
falso no rosto. Eu fiquei tão boa em fingir e em simplesmente dizer: "Eu
estou bem." Então haviam os outros dias: dias em que eu me senti forte o
suficiente para lidar com qualquer resposta que eu poderia receber de outras
pessoas quando eu compartilhava com eles a minha dor. Haviam também os dias,
em que eu simplesmente não conseguia esconder minha tristeza, dor, confusão,
raiva e frustração por mais tempo. Minhas emoções eram tão verdadeiras e cruas
que elas apenas escoavam para fora de mim para todos verem.
5)Eu honrei a meu filha de maneiras que eu mesma
escolhi?
Sim! Eu honrei a minha filha querida de
todas as maneiras que eu poderia ter pensado! Realizei caridade em seu nome andando
5km, fiz doações para organizações de perda gestacional, escrevi cartas sobre a
minha dor, criei caixas de memória, fiz trabalho voluntário em prol causas
acerca da perda gestacional, e escrevi e escrevi. Eu fiz tudo, e vou continuar
a fazer, nos caminhos que escolhi também! Mas depois desse um ano que se passou
acho que como eu faço para honrá-la não precisa de tanto barulho. Eu posso
homenageá-la por apenas uma fração de segundo, num pensamento para ela todos os
dias ou visitar um local especial que me faz lembrar dela. Não importa como eu
faço isso, não importa se eu fizer isso sempre ou todo o tempo. Tudo o que
importa é que, se eu decidir honrar a meu filha, eu farei isso de uma forma que
me ajuda a me curar, e de um jeito que eu escolher.
6)Será que eu abracei a minha dor, a fim de
liberá-la?
Sim, mas era difícil. No começo eu não
queria encarar minha dor, a dor, o sofrimento que vem de perder um filho. No
começo eu queria cavar um buraco e morrer também. Mas, lentamente, e a cada dia
que passou eu comecei a ver que me inclinar para a dor me ajudou a me curar. A
dor era grande, porque o amor é grande. Eventualmente, eu era capaz de aceitar
a dor como uma indicação de amor.
7)Será que eu abri o meu coração para a
cura, uma vez que eu estava pronta?
Sim, mas a cura agora assume um novo
significado. Cura significa agora, aprender a viver com a dor, para vestir a
cicatriz no meu coração que amou (e ama) e perdeu, mas ainda sinto a dor e vejo
a feiúra do local onde a dor entrou em mim. Cura significa também me permitir
desfrutar de partes da vida de novo, sem a culpa, sem dor, mas aprender a
deixar que o riso, o amor e todas as coisas boas fluam de volta na minha vida.
Até mesmo para permitir que a esperança no futuro possa entrar em meus
pensamentos novamente.
8)Será
que eu vou conseguir seguir com a vida depois da morte de meu filho?
Sim! E eu acho que eu sou um
Deus-super-herói para fazer isso e você também! Minha irmã me enviou uma
citação que diz tudo: “Qualquer um pode matar um dragão, ela me disse, mas
tente acordar todas as manhãs e amar o mundo mais uma vez. Isso é o que leva a
um verdadeiro herói.” Não tenho certeza de quem é frase, mas é bonita e tem sido meu mantra
para manter em pé a cada dia, após ser dilacerada pela perda.
E lá se foi UM ANO. 365 dias, 8760 horas,
525600 minutos ou 31.536.000 segundos se passaram desde que a minha filha
morreu. Ainda há dúvidas, mas mais importante ainda sou EU! Eu ainda estou
respirando, eu ainda estou de pé, eu ainda estou vivendo, eu ainda estou
amando, e eu sou a verdadeira heroína da minha história. Essa é a única e
verdadeira resposta para todas as minhas perguntas.
(PS: se você ainda está respirando, ainda
de pé, ainda viva, e ainda ama, então você é o verdadeiro herói de sua história
também.)
Créditos: texto de Lindsey Henke para
StillMagazine - Livre tradução