terça-feira, 28 de junho de 2016

08 Questões para refletir após 1 ano de luto





E lá se foi UM ANO. 365 dias, 8760 horas, 525600 minutos ou 31.536.000 segundos se passaram desde que a minha filha morreu. A tarefa diária de atravessar cada momento tristeza foi cumprida. Mesmo depois de um ano, eu ainda me pergunto: "Por que isso aconteceu?" "Qual foi a causa?" Ou "Poderia ter sido diferente?" Então eu percebi que, se eu continuasse me perguntando essas coisas, eu poderia nunca encontrar uma resposta . Depois de refletir sobre um ano de luto, posso lhe dizer as lições que aprendi, mas acredito que o caminho de cada pessoa é diferente e também como vivenciam a sua própria jornada de luto. Então, ao invés disso, acredito ser melhor que relatar sobre o ano de tristeza que vivi e as perguntas que me fiz, essas sim que fui capaz de responder.


1)Eu me permiti sofrer livremente, no meu próprio ritmo, e das maneiras que eu precisava?

Sim! Eu levei tanto tempo quanto eu precisei e deixei a tristeza me envolver de uma forma que era única para mim! Eu andei o caminho da dor no meu próprio ritmo e com quem eu escolhi para compartilhar a experiência. Abracei minha dor e não permiti que outras pessoas me dissessem como fazer o meu luto ou ficassem no meu caminho.


 2)Eu me dei permissão para experimentar plenamente o amor por minha filha?

Sim! Eu aprendi que mesmo que eu não pudesse segurar meu filha nos meus braços por mais tempo, que o meu amor por ela ainda crescia a cada dia no meu coração. Eu me dei permissão para compartilhar o amor que tenho por ela com os outros e aprendi que eu ainda posso ter um relacionamento amoroso com a minha filha, mesmo após sua morte. O amor não morre!!


3)Será que eu me permiti momentos de felicidade sem culpa?

Este foi a parte mais difícil, já que havia momentos em que eu sentia que sendo feliz eu estava sendo desleal para com a minha filha. Mas então eu percebi que a minha filha não gostaria uma mãe infeliz em sua vida, por que ela quer uma mãe infeliz na sua morte? Ela não podia mais viver e foi assim que eu aprendi a viver a vida, com todos os momentos de alegria, por nós duas.


4)Eu fui honesta com os outros sobre os meus sentimentos?

Sim e Não. Haviam dias em minha tristeza em que eu não conseguia dizer à outra pessoa como eu realmente me sentia, porque se eu fizesse isso, eu teria desintegrado no chão em pedaços. Nesses dias eu não era forte o suficiente para permitir que outros vissem a minha dor. Estes foram os dias em que eu menti e nesses, colocava um sorriso falso no rosto. Eu fiquei tão boa em fingir e em simplesmente dizer: "Eu estou bem." Então haviam os outros dias: dias em que eu me senti forte o suficiente para lidar com qualquer resposta que eu poderia receber de outras pessoas quando eu compartilhava com eles a minha dor. Haviam também os dias, em que eu simplesmente não conseguia esconder minha tristeza, dor, confusão, raiva e frustração por mais tempo. Minhas emoções eram tão verdadeiras e cruas que elas apenas escoavam para fora de mim para todos verem.


5)Eu honrei a meu filha de maneiras que eu mesma escolhi?

Sim! Eu honrei a minha filha querida de todas as maneiras que eu poderia ter pensado! Realizei caridade em seu nome andando 5km, fiz doações para organizações de perda gestacional, escrevi cartas sobre a minha dor, criei caixas de memória, fiz trabalho voluntário em prol causas acerca da perda gestacional, e escrevi e escrevi. Eu fiz tudo, e vou continuar a fazer, nos caminhos que escolhi também! Mas depois desse um ano que se passou acho que como eu faço para honrá-la não precisa de tanto barulho. Eu posso homenageá-la por apenas uma fração de segundo, num pensamento para ela todos os dias ou visitar um local especial que me faz lembrar dela. Não importa como eu faço isso, não importa se eu fizer isso sempre ou todo o tempo. Tudo o que importa é que, se eu decidir honrar a meu filha, eu farei isso de uma forma que me ajuda a me curar, e de um jeito que eu escolher.


6)Será que eu abracei a minha dor, a fim de liberá-la?

Sim, mas era difícil. No começo eu não queria encarar minha dor, a dor, o sofrimento que vem de perder um filho. No começo eu queria cavar um buraco e morrer também. Mas, lentamente, e a cada dia que passou eu comecei a ver que me inclinar para a dor me ajudou a me curar. A dor era grande, porque o amor é grande. Eventualmente, eu era capaz de aceitar a dor como uma indicação de amor.


7)Será que eu abri o meu coração para a cura, uma vez que eu estava pronta?

Sim, mas a cura agora assume um novo significado. Cura significa agora, aprender a viver com a dor, para vestir a cicatriz no meu coração que amou (e ama) e perdeu, mas ainda sinto a dor e vejo a feiúra do local onde a dor entrou em mim. Cura significa também me permitir desfrutar de partes da vida de novo, sem a culpa, sem dor, mas aprender a deixar que o riso, o amor e todas as coisas boas fluam de volta na minha vida. Até mesmo para permitir que a esperança no futuro possa entrar em meus pensamentos novamente.


8)Será que eu vou conseguir seguir com a vida depois da morte de meu filho?

Sim! E eu acho que eu sou um Deus-super-herói para fazer isso e você também! Minha irmã me enviou uma citação que diz tudo: “Qualquer um pode matar um dragão, ela me disse, mas tente acordar todas as manhãs e amar o mundo mais uma vez. Isso é o que leva a um verdadeiro herói.” Não tenho certeza de quem é  frase, mas é bonita e tem sido meu mantra para manter em pé a cada dia, após ser dilacerada pela perda.

E lá se foi UM ANO. 365 dias, 8760 horas, 525600 minutos ou 31.536.000 segundos se passaram desde que a minha filha morreu. Ainda há dúvidas, mas mais importante ainda sou EU! Eu ainda estou respirando, eu ainda estou de pé, eu ainda estou vivendo, eu ainda estou amando, e eu sou a verdadeira heroína da minha história. Essa é a única e verdadeira resposta para todas as minhas perguntas.

(PS: se você ainda está respirando, ainda de pé, ainda viva, e ainda ama, então você é o verdadeiro herói de sua história também.)


Créditos: texto de Lindsey Henke para StillMagazine - Livre tradução