segunda-feira, 25 de setembro de 2017



Fingir que não dói, dói o dobro



Não vou virar a página. Não agora. Não só porque é isso que as pessoas esperam de mim. Não tenho pressa. Há um mês e meio, eu dei a luz à meu filha natimorta. Estou triste e não quero fingir que não estou. Não agirei como se não tivesse acontecido nada, como se fosse eu fosse a mesma pessoa de antes, porque não sou e não o farei. 

Estou triste! Tudo deveria ser diferente!! Eu estava feliz por tudo o que eu estava vivendo até então. Negar minha tristeza seria fingir, e essa não sou eu. Eu adoraria não ser assim, ser quem eu era antes, muito embora me digam que toda essa experiência me fará mais forte. 

Fico quieta, mas não queria ser mais forte, não assim, com um golpe tão grande!!!
Eu não sou corajosa, não escolhi isso. Isso me aconteceu sem eu querer, sem que eu provocasse ou fizesse algo para que fosse comigo. Aprendi que na vida existem coisas que nos fogem ao controle. Que por mais que você planeje, sonhe, às vezes, esses acontecimentos não dependem de você.

Eu vivi uma situação extrema, passei por um nascimento para enfrentar a morte, como diabos eu vou ficar bem? Quando o pai de uma pessoa morre, não ocorre a ninguém dizer "outro virá" ou "você já tem uma mãe". Ninguém substitui ninguém.
Eu não sei por que quando um bebê morre antes de nascer ou quando viveu um curto período de tempo, tendemos a minimizar o valor dessa vida e a dor dessa mãe. Uma vida curta, sim, mas para uma mãe é toda a vida de seu filho. 

Estou triste! Não há dia nem noite que as memórias desse maldito dia não vêm à minha memória. Não há um dia que não pense "Eu queria ter o poder de voltar no tempo". Não há dia em que eu não pense quantos dias eu esperei para conhecê-la, e como seria esse momento. Não há dia em que eu não me lembre de que eu a conheci, mas não do jeito que eu desejava conhecer. Porque quando morre alguém que já viveu muito, você tem memórias. Quando alguém que
mal viveu morre, você tem ilusões. Mas está dilacerada.

Estou triste! Eu choro várias vezes por dia. Eu choro para desabafar minha raiva. Eu choro porque eu sinto isso, porque o corpo me exige isso, a todo e qualquer momento. Porque chorar é o que devemos fazer quando a vida nos derruba. Porque perdi uma filha. Eu choro e estou triste porque é justo e me é permitido, porque é saudável quando algo machuca ou parte meu coração. Eu choro porque alivia. Eu choro porque estou sobrevivendo. Eu choro porque estou triste.

Mas isso não significa que eu vou chorar o resto da vida ou que sempre estarei triste, não significa que eu vou cair de vez. Isso significa que eu vou viver o luto tanto quanto eu posso, que vou sorrir quando eu puder, que às vezes eu estarei bem, mas também terei recaídas. Isso significa que estou tentando, que a vida continua, mesmo que a minha vida não seja a mesma. Isso significa que eu continuarei a sentir dor, mas cada vez menos, significa que não vou sobreviver mas sim viver . Não vou esquecer, vou aprender a viver com isso, o que não é pouco. E ficarei feliz, eu sei disso. Mas tudo na hora certa.

"Fingir a invisibilidade do luto é fingir a invisibilidade da morte, da doença perecível, da doença; em suma, da fragilidade de nossa humanidade. "Freud


Autora:Carmen (www.nosoyunadramamama.com) 
Versão em Português: Grupo SobreViver

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Quando a dor e a alegria andam juntas...


Quando minha irmã se sentou comigo no sofá e me contou que estava grávida de seu
terceiro filho, apenas alguns meses após eu ter perdido a minha primeira filha,
lágrimas desceram pelas minhas duas faces. Eu senti as duas coisas ao mesmo tempo:
tristeza e alegria.

Eu queria assegurar para ela que eu estava feliz por esta nova vida crescendo dentro
dela, enquanto ao mesmo tempo eu não conseguia evitar que esta nova onda de
tristeza me atingisse porque eu desejava que um bebê saudável estivesse crescendo
dentro de mim. Ela sabia disso e me disse que tudo bem eu me sentir dessa forma, que
eu nem precisava ficar feliz e que ela também estava experimentando a tensão dessas
emoções. Que liberdade ela me deu naquele dia, para abraçar a alegria e a dor que
faziam parte da minha nova realidade no luto!

Estes momentos com minha irmã foram alguns dos primeiros, depois de eu perder
minha primeira filha, nos quais eu senti que a alegria de outra pessoa se misturava
com a minha própria dor. Foi o sentimento dessa alegria em uma nova vida, um novo
sobrinho e a dor da minha própria perda. Era desconfortável e perturbador.
Não posso ter uma emoção sem a outra?
Pode ser fácil nesses momentos, para quem está experimentando a alegria, pensar ou
mesmo dizer (mas por favor, não faça isso!): "Você não pode ficar feliz por mim?".

Felizmente, essas não foram as palavras que minha irmã me disse ou mesmo pensou.
Em vez disso, ela se sentou comigo na dor e na alegria que coexistiu, permitiu-me
celebrar com ela quando pude e chorou comigo quando eu não pude. Talvez essas
palavras tenham sido ditas a você enquanto lutava com a sua própria dor e tristeza ou
talvez você tenha pensado: "Por que eu não posso ficar feliz por elas ao invés de sentir
essas intensas emoções, aparentemente contraditórias, de alegria e dor crescendo em
mim?” Ou talvez como eu, você só desejasse que essas emoções não colidissem tão
constantemente como agora.

Sentir alegria e dor é difícil!

Em nossa cultura ocidental, é difícil se permitir viver as emoções da dor e da alegria,
tanto para os que estão em luto quanto para a pessoa que está vendo o outro em luto.
Nós gostamos de coisas mais racionais, mais confortáveis, mais compreensíveis. Hoje
eu me sinto feliz. Hoje estou triste. Mas para aquele que está em luto, essas emoções
são de ida e volta e muitas vezes acontecem nos mesmos momentos, ou nas mesmas
respirações. Posso compreender muito mais as minhas emoções quando elas não
estão uma bagunça. Mas o sofrimento é confuso e bagunçado.

Antes de perder minha filha, eu não entendia de verdade esta colisão de emoções tão
intensas, eu nunca as tinha experimentado tão assustadoramente juntas e ao mesmo
tempo. A maior parte da minha vida tinha sido bastante fácil. Em um casamento ou
um chá de cozinha, em um chá de bebê ou quando descobria que alguém estava
grávida, sentia alegria. 
Mesmo quando eu estava solteira e desejava me casar, descobria que outra pessoa estava se casando e não evocava o mesmo tipo de emoções intensas que surgiam quando eu descobria que alguém estava tendo um bebê depois de ter perdido a minha.

Alegria e tristeza caminham juntas...     

Claro, eu não desejava a perda de um filho para ninguém, não queria que alguém
tivesse que suportar a dor de saber que seus filhos morreram, eu só queria não ter
perdido a minha filha. Hoje, vários anos depois, são outros momentos marcantes dos
filhos dos meus amigos que me fazem lembrar - às vezes de forma clara, outras vezes
mais sutis - dos momentos que estou perdendo. São as emoções que surgem nas
pessoas que viveram o luto e são as emoções daqueles que reconhecem que vivemos
em um mundo onde a alegria e a tristeza estão sempre juntas.
[...]
Ver essas verdades de novo trouxe uma paz estranha à minha alma, saber que não estou sozinha nessas emoções entrelaçadas.

Não existe apenas alegria e não existe apenas dor.

À medida que o tempo passou, minha alegria tornou-se mais doce, não separada da
dor, mas por causa dela. Eu ouço que uma nova vida está se formando e meu coração
torce, com dor e também alegria, pelo precioso e valoroso dom da vida.

Alguns meses atrás, enquanto passava um tempo com minha melhor amiga Julie e
suas duas filhas, as meninas ouviam a música de La La Land. Peguei-as pelas mãos e
giramos e dançamos e meu coração estava cheio de alegria. E de repente lá estavam
elas novamente, lágrimas de tristeza que me lavaram quando imaginei o que seria
dançar e girar com minhas duas garotas que teriam a mesma idade que as dela.
Eu sofri pelas minhas filhas naquele momento, desejando o dia em que eu iria
experimentar dançar com elas, ao mesmo tempo em que eu estava agradecida por
esses preciosos momentos com as meninas da minha melhor amiga, que eu também
amo muito.

Como aceitei mais rapidamente a realidade de que essas duas emoções colidirão
constantemente, tenho sido mais capaz de me alegrar com aqueles que se alegram e
chorar com aqueles que choram. Cresci permitindo que essas emoções estranhas, e
muitas vezes irreconciliáveis, ​​existam juntas.
Estou percebendo que meus sentimentos de tristeza e dor não significam que eu não
estou feliz por aqueles que experimentam alegria, e meus momentos de alegria não
significam que eu ainda não estou triste e com saudade daqueles a quem amei e perdi.
Não tem sido fácil, mas foi e continua sendo (na maior parte das vezes) uma doce
jornada de aceitar que não existe apenas alegria e não existe apenas dor e uma não
cancela a outra.

Na aceitação descansa a paz
Uma mulher sábia chamada Elisabeth Elliot disse uma vez "na aceitação descansa a
paz". Ao longo do tempo, quando eu comecei a aprender a aceitar e abraçar as
emoções sempre entrelaçantes de alegria e dor, uma maior paz surgiu. E essa paz não
veio quando minhas emoções se elevavam, mas no meio delas. Quase nunca (ou
nunca) gosto de sentir que minha realidade inclui tal perda, mas lembro-me de que
não sou a única a andar nessa jornada de dor. E certamente não sou a primeira a
começar a aprender como é ter alegria junto com a dor.

[...]


Texto de Lindsey Dennis - Tradução de Karina Meneghetti