quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Todas as estrelas riem docemente...

    Assistindo ao Pequeno Príncipe, me pareceu o certo a fazer escrever tudo que o filme me fez pensar e reviver... 

    No dia 20/07/2017, acordei feliz sabendo que o momento de conhecer você, meu Iure, estava próximo. Eu estava arrumando os últimos detalhes para sua chegada, antes mesmo de imaginar que você viria antes. Já tinha visto este difusor do Pequeno Príncipe, então neste dia fui compra-lo. Seu quartinho estava lindo e cheiroso para recebe-lo, mas o nosso destino já estava traçado. Você não pôde desfrutar do seu lindo quarto e eu não pude lhe contar a linda história do Pequeno Príncipe. E o difusor estava aqui, sem utilidade pra mim, me fazendo lembrar de você todas as vezes que olhava para ele. Esta semana resolvi usá-lo aqui na sala, do lado da sua foto. 






    Só então reparei em uma frase que está escrita em uma tag que veio nele: "Então, eu me sinto feliz e todas as estrelas riem docemente." 

    Isso me trouxe um certo consolo, saber que aonde você está não tem choro, nem dor, nem sofrimento. Você está feliz, um anjo perfeito, lindo e muito amado, brincando ao redor das estrelas e sei que, ao seu lado, elas riem docemente!
A dor pode sim amenizar, mas o amor e a saudade só crescem, dia após dia.

Ariane Baptista Ribeiro
(Ariane é mãe do Iure e integrante do Grupo SobreViver)

sábado, 6 de janeiro de 2018

"Você já não deveria ter superado isso?” Como responder ao julgamento sobre seu Luto





Um leitor me enviou esta pergunta:
Como posso lidar com pessoas que esperam que eu já tenha “superado”? Minha noiva morreu quase dois anos atrás. Como posso convencê-los, que está tudo bem em eu ainda não ter “superado”?
Embora essa pergunta tenha sido enviada por um leitor, muitas pessoas sofrem com essa questão. Eu aposto que você teve pelo menos alguns experiências com pessoas que tentaram te ensinar o modo “correto” de sofrer e “superar”.
Muitas pessoas esperam que você supere, não é?
Eles não conseguem entender o que é ser você, viver dentro de um  sofrimento como esse. Eles só querem o você "velho"de volta, não entendendo que esse “antigo você” mudou profundamente.
É tão tentador, quase automático, argumentar o seu direito ao seu sofrimento, e descrever para outras pessoas todas as coisas que mudaram, todas as maneiras que a falta do seu filho dói em você, e como isso afeta todas as áreas da sua vida.
A coisa é, não importa o quanto você diga, não importa o quanto você tente educá-los, a verdade é que eles não conseguem entender. É muito tentador falar sobre todos os seus motivos (mesmo bem explicadinho), mas suas palavras nunca irão surtir efeito.
Então o que você pode fazer?
Às vezes, é mais fácil para você, seu coração e mente ficarão mais leves, se você simplesmente parar de tentar explicar.
Recusar-se a explicar ou defender o seu sofrimento não significa que você deva deixar as outras pessoas continuarem a falar sobre isso, continuamente dizendo como você deve viver. Estou falando se recusar a participar de debates sobre se a sua dor continua é válida ou não .
Argumentar em sua defesa para alguém que não consegue entender é um desperdício de seu tempo e de sua (pouca) energia emocional
É importante lembrar que, seu sofrimento, assim como seu amor, pertence a você. Ninguém tem o direito de ditar, julgar ou desprezar o que é seu para viver.
Entretanto, mesmo as pessoas não tendo o direito de julgar não impedem que elas o façam.
Isso significa que: se você quiser parar de ouvir as pessoas te julgando, você precisará deixar claro os seus limites. Você precisará deixar claro que seu sofrimento não é assunto para ser debatido. Que você não permitirá isso.
Claro que é mais fácil falar aqui do que agir, então sugiro alguns passos que você pode tomar para sair da discussão:
1. Dizer, clara e calmamente, que entende a preocupação da pessoa.
2. Esclarecer seus limites.
3. Redirecionar a conversa. Fale de outro assunto. Mude o foco.

Esses três passos, quando usados ​​de forma consistente, podem reduzir significativamente a quantidade de julgamentos que você costuma ouvir.

Veja na prática:
Primeiro, reconheça a preocupação do outro, enquanto diz saber das boas intenções dele: "Agradeço seu interesse na minha vida".
Em segundo lugar, deixe BEM claro seus limites: "Eu vou viver dessa maneira que me parece adequado, e que tem funcionado para mim, e não estou interessado em discutir isso".
Um outro jeito: etapas um e dois – reconhecendo a preocupação do outro e esclarecendo os seus limites - muitas vezes podem vir juntos em uma frase: "Agradeço o seu interesse na minha vida. Eu vou viver dessa maneira que me parece adequado e que tem me feito bem, e não estou interessado em discutir isso ".
Isso pode se tornar ainda mais eficaz se você juntar a etapa número três, redirecionando a conversa, também mudando de assunto: "Estou feliz em falar sobre outra coisa, mas isso não está aberto a discussão".
Parece muito duro e frio, eu sei. Mas a mensagem aqui - incluindo a formulação formal - é que você tem um limite claro, e você não permitirá que isso seja violado de nenhuma maneira.
Se houver pessoas em sua vida que não percebam esse limite tão claro sem mais argumentos, você pode manter uma frase na manga - "Esse não é um tópico que vou discutir" - e depois mude a conversa para outra coisa.
Se eles não conseguem fazer isso, você pode terminar a conversa completamente - vá embora, diga adeus e desligue.
O importante é não permitir que você seja atraído para a batalha. Seu sofrimento não é um argumento. Não precisa ser defendido.
É estranho no início, mas esclarecer seus limites e redirecionar a conversa se tornará muito mais fácil quanto mais você praticar.
Eventualmente, as pessoas em sua vida entenderão o recado - não que você não precise superar isso, mas que você não está disposto a discutir isso - ou eles vão cair fora.
O problema é que o sofrimento reorganizará completamente seus relacionamentos. Algumas pessoas irão embora, e algumas ficarão.
Se as pessoas em sua vida puderem lidar, até mesmo aceitar isso, você ser verdadeiro consigo, com seus sentimentos e dores, então eles ficarão ao seu lado. Se eles não conseguirem entender, deixe-os ir: graciosa, claramente e com tranquilidade e amor.

Texto de Megan Devine 
Versão em Português por: Grupo SobreViver
Publicado originalmente em https://www.huffingtonpost.com/megan-devine/grieving-process_b_5065323.html


terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Quando a dor de quem sofre, sufoca quem aconselha



           É fácil dar conselhos ou julgar quando não se viveu a situação. É fácil dizer: "Supere!" Ou: "Já chega!" quando o espinho não arde na própria carne. Quando não se conhece a dor do outro. Quando não se traz na bagagem a mesma história de vida. 
          É difícil colocar-se no lugar de quem sofre. É difícil entender o que se passa, mesmo que se tenha vivido uma situação semelhante, pois o jeito com que se lida com o que te acontece hoje, depende de como foi todo seu passado, aprendizados e vivências anteriores. O que dói em mim, pode não doer em você. Ou pode não doer do mesmo jeito. O que me machuca, ou me é árduo lidar, pode ser mais simples para você e vice-versa. 
           Há uma sociedade, regida por regras, que se encarrega de ditar como e até quando devemos nos sentir assim ou assado. Gente que te diz: "fica feliz, porque te falta uma perna, mas você tem os braços". Gente que diz que é "plano de deus", que "vai passar" ou outra pérola do gênero. E as palavras, muitas vezes carregadas das melhores intenções, cheias de amor, daqueles que, se pudessem, fariam uma limpeza de toda tristeza e te deixariam em pé de novo, acabam por machucar ainda mais! 
           Quando eu digo: "Supere!" ou "confie em deus" ou ainda: "você é fraco, ainda vive esse sofrimento" na maioria das vezes estou dizendo: "Ei, pelamordedeus, pára de sofrer porque eu não sei lidar com isso! Pára de chorar porque não sei dar colo, não sei o que fazer. Esquece essa dor porque falar nela me lembra das minhas dores, aquelas que eu mesmo fiz questão de jogar para debaixo do tapete para não ter que lidar com elas". E então acontece, mais uma vez, a culpabilização da vítima, aquele que sofre, por aquele que está de fora. Quem chora é culpado por sofrer, por querer desabafar, chorar a própria dor. 
           Fazer perguntas que nunca terão respostas, esbravejar, demonstrar os sentimentos mais inaceitáveis. E o interlocutor, em sua dificuldade em acolher, acusa. Acusa o outro de fraco, de inadequado. E nisso se recusa a ver, que, não há nada de mal em o outro chorar. É justo! Pode não ser um problema tão grande para um, mas se dói no outro, se sufoca ou tira o chão, que mal tem chorar? Que mal tem sofrer? 
          Acolhimento não significa sempre ter um bom conselho, ou tentar tirar o outro do sofrimento. Um bom acolhimento é aquele que valida a sua dor. Que, mesmo não compreendendo o que você sente, te dá espaço para que todo sentimento seja manifestado e assim, validado. É quando quem sofre encontra espaço para manifestar o que carrega dentro de si que as dores vão sendo expostas e elaboradas. E o sofrimento vai aos poucos se transformando. 
          Não se deve obrigar o outro a se sentir grato por uma provação. Precisamos assumir que não é o outro quem tem que deixar o sofrimento de lado e sim nós que precisamos lidar melhor com o choro desse alguém. Assumir que todo sentimento é justo e que, se não temos condições emocionais próprias, para ouvir e acolher, pelo menos vamos garantir que nossos dedos não estão em riste, apontando falhas no outro que na verdade são nossas. 
          Não é o outro que precisa parar de chorar e sim eu que preciso saber lidar melhor com isso. E reconhecer que se me incomoda, se não aguento o tranco, devo permanecer em silêncio. 
          Como já diz a sabedoria popular: " Muito ajuda quem não atrapalha". E sempre. Sempre e sempre, na maior parte das vezes, se não em todas elas, o que o outro precisa de você são duas (sinceras) palavras: "Sinto muito!"

Texto de Flávia Cunha
Publicado em 30/12/2015